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Gil Mar 2018
Na rua faz frio e sol de inverno.

Gelam-me os pés e o coração, secam-me os lábios e os olhos.

De visão turva, ano para onde o vento forte me levar, esperando que lá faça sol.

De cabeça baixa, olho o céu nas poças de água na estrada.

Não me atrevo a chorar, que as lágrimas congelam-me as maçãs do rosto.

De mente atribulada, forço a tosse para fazer silêncio e sussurro:

Partida. Largada. Fugida.

E correm-me os pensamentos de uma ponta a outra.

Correm para ver quem chega primeiro, quem merece a minha atenção.

Mais rápidos que a própria sombra. Nem os vejo.

Zangados, gritam-me. Gritam-me todos ao mesmo tempo e não percebo uma palavra.

Fartos, cansam-se de gritar, mas agora também eu sinto cansaço.

Cansam-me os olhos, cansam-me as pernas, cansam-me os pulmões e o coração.

Espero que eles estejam felizes
Mistico Mar 4
Talvez não seja minha visão que se turva,
mas a sua, que não alcança o que há no fundo.
Você enxerga em mim o brilho, a bondade,
mas de que adianta ver luz onde só há sombras?

Sou um mosaico de gestos e sorrisos
cercado por pensamentos que gritam em silêncio.
A depressão é um sussurro constante,
um eco que se repete dentro de mim.

Não gosto da solidão, mas escolho tê-la,
não por desejo, mas por proteção.
Se me fecho nessa bolha imensa,
é para que ninguém sinta o peso que carrego,
para que ninguém se perca onde já estou perdido.

E talvez, aqui dentro, o tempo passe devagar,
ou talvez eu passe a vida inteira sem notar,
preso na transparência dessa redoma,
vendo o mundo, sem jamais tocá-lo.

— The End —