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Expo 86' Dec 2015
Sabe, sei que fui contemplado com algo horrível, também sei que talvez tudo isso foi culpa minha, quando você é um idiota por muito tempo sempre acha alguém esperto demais para te amar, mas mesmo assim ela vai te amar, e tudo isso vai acabar de uma maneira podre e dolorosa, e eu irei acabar em um bar qualquer em uma rua qualquer dando risada sobre uma piada ou qualquer outra coisa estupida.

E nesse momento enquanto dou um gole na cerveja e sinto sua fria espuma tocando meu lábio eu sou sugado para fora do presente, e lá em um campo verde vejo uma fileira imensa de lapides e distantes de todas as outras, no topo de uma montanha vejo uma arvore aparentemente morta, mas mesmo naquele estado tenebroso ainda me rende uma sensação de segurança, e ao chegar lá que percebo: a brisa ainda está fresca, as palmeiras ainda verdes e eu ainda estou aqui.
Eu ainda estou aqui.
Cansei de literatura fraca e coração mais fraco ainda.
Cansei de jogo escondido e dedo quebrado pra estalar a boca.
Cansei de sentir e esperar deixar.
Cansei da risada que vem de longe, cheia de graça daquilo que pra mim é tão amargo.
Cansei da úlcera de ansiar por todos os motivos errados.
Cansei dos cortes e do sangue na coberta amanhecida pelos sonhos ruins.
Cansei dos olhares e palavras soltas nas diagonais que são sempre pra você.
Cansei de ouvir as músicas das coisas que eu sentia.
Cansei dos poemas que são mesmo, pra todo mundo.
Poesia é pra todo mundo.
Cansei.
Poesia não é pra todo mundo.
Nem eu.
Letícia Costa Jun 2013
#2
O cabelo
O cigarro
A mão
Os olhos
Você me inspira

A ironia
O descaso
A bagunça
A risada
Você me inspira

A melancolia
A música
A bebida
O terno
Você me inspira
Mariana Seabra Mar 2022
E tu, ansiosa por te afogar,

Foste apanhada na corrente

Deste teu precioso mar.


À superfície da água salgada,

Onde te deixavas flutuar,

Saíram das mais ínfimas profundezas

Mil duzentos e sete braços

Ansiosos por te abraçar.



Envoltos num corpo inanimado,

Não o deixaram recuar.

Nunca mais deu à costa,

Nem soube o que era respirar.

Pois peso morto sempre naufraga

E não há volta a dar.



Mas há coisas que não têm peso

E são mais difíceis de afundar...

Descem, e logo voltam à tona  

Como se estivessem a ressuscitar.



Dizem que a mulher que lá entrou,

Naquele tenebroso mar,

Entrou criança  

E foi feita sereia.



Não sei o que lhes deu essa ideia,

Talvez estejam obcecados com a mudança.

Talvez pela forma como o seu corpo balança

Por entre as ondas da maré cheia.


Quem espera sempre alcança...


Numa noite escura,  

num silêncio de levar à loucura,

Num céu envolto em trevas

onde nem espreitava o luar...

Avistaram uma sereia em pleno alto mar.



Dizem que o seu canto,

Simultaneamente belo e perigoso,

Fazia qualquer homem desesperar.

Como sou mulher, cética e descrente,

Com olhar atento mas duvidoso,

Nunca cheguei a acreditar.  



Iludidos!

Aqui está mais uma prova,

Os homens são muito fáceis de enganar.

Nem se aperceberam que eram gritos  

Aquilo que se espalhava pelo ar,

Os seus e o dela.

O som do massacre com que ela os iria brindar.



A única diferença é que os gritos da sereia

Eram de puro prazer,

E os gritos dos homens

Eram de puro sofrer.



A única diferença é que ela ia sobreviver,

Para ver outro dia nascer,  

Para ter mais uma história que escrever.



Iludidos!  

Não podem ver uma mulher que já não sabem pensar.

E ela, inteligente, usa esse instinto contra eles,  

para os convencer a mergulhar.



Assim, num mar de tinta vermelha

Habituara-se a sereia a nadar.

A cada morte ria mais alto,

“Tanta ignorância ali jaz a boiar”,

E ria, como se os seus pulmões fossem estourar,

Com uma ingenuidade encantadora  

De quem não sabe que está a pecar.



Dançava, louca e despreocupada,

Por entre centenas de corpos desfeitos

Que corriam na sua água, doce e salgada,

Livre de amarras e preconceitos.



Dizem que em noites de tempestade,

Por entre o caos da trovoada,

Ecoam os gritos de uma sereia

Juntamente com a sua doce risada.



“Não há homem neste mundo

Capaz de me tocar

Sem eu o petrificar.

Ainda bem que os braços

Que me envolveram,

No fim de tudo,

Foram os de uma deusa

Chamada Mar”.
iannogueira Mar 21
Dizem que o pecado viaja pela árvore
até encontrar um fruto pronto para recebê-lo.
Eu nunca pensei que essa fosse a minha sina,
todo amor em mim se transforma em veneno.

Invisível aos olhos do mundo,
como uma estrela à luz do meio-dia.
Você demorou a me enxergar,
mas eu sempre te via lá de cima.

Eu te avisei para não chegar muito perto,
ou aconteceria isso: eu te tornando poesia.
Ganhou uma página em mais um livro,
onde o meu sangue é usado como tinta.

Você não se assustou com a bagunça
do meu coração de romã despido,
e eu não pestanejei em te estender
um vislumbre do meu precipício.

Certa noite você me convidou para um concerto,
e eu disse que só iria
se tocassem o som da sua risada alta.
Me pergunto em que acorde nós erramos,
todas as risadas viraram lágrimas.

Agora o meu quarto testemunha
a minha eterna catatonia.
Lá fora, eu vivo.
Aqui dentro, espero que me ocorra a vida.
Um dia eu a tive, e soava como disritmia.
#português
Tem dias que me pego pensando em ti,
em todas as vezes que senti tua falta.
Esqueci tua voz —
aquela que me arrancou
as mais sinceras gargalhadas que um dia já dei.

Esqueci tua risada —
a que ria a todo momento
das minhas palhaçadas.
Mas nunca, nunca me esqueço de você.

Quando você se foi,
levou uma parte de mim junto.
E a parte que ficou…
ficou sem rumo.

Não estava preparada para o adeus.
Nunca estive.
Você me ensinou tantas coisas,
mas não me ensinou a me despedir de você.

E em alguns dias —
aqueles em que a saudade bate à porta
mais forte do que nunca —
penso nos teus sonhos,
nas metas nunca cumpridas,
nos desejos nunca ditos...
e me encontro desolada.

Choro até não restarem lágrimas,
até a saudade diminuir,
até o peito parar de apertar.

Achei que teríamos tanto tempo…
E de fato, tivemos.
Tivemos tanto tempo
que me esqueci
que cada minuto era especial.

Só me lembrei disso
quando te perdi.
Quando nem os segundos
ao teu lado
eram mais possíveis.

— The End —